sábado, 28 de julho de 2007

Henri - Parte 2

Por causa do espelho na porta, a primeira visão que o convidado tem na residência do adorável anfitrião é a de si próprio. A primeira e a última. Lembro que as cantoneiras da entrada eram moldura para o espelho atrás de si e o conjunto um retrato de mim. Henri gritou forte e gentleman:

- Entra! – ele estava se vestindo no quarto e então tratei de avançar, fazer pose para o espelho e me ver sem moldura até que o rapaz chegasse devagar para me mordiscar da barra da camisa surrada à nuca. Imagino que Henri deva ter percebido o meu desconcerto antes que eu pudesse fingir que pensei em tudo. Mas foi discreto.

- Venha, Catarina. Vamos à Cidade das Mulheres de Fellini! Você quer vinho?

Então, o quarto de Henri seria a cidade das mulheres de Fellini e eu uma delas. Aceitei o vinho e os bombons que me ofereceu. Acendi-lhe a paixão e o cigarro. Recusei o que me deu em troca. Assistimos ao filme cujos frames eram fotografias; fotografias e espelhos. Eram mulheres desesperadas.

segunda-feira, 16 de julho de 2007

Henri - Parte 1.2

Liguei pra ele pela manhã e ninguém atendeu. Não me pergunte pelo por que do pronome. Quem mais poderia estar naquele apertado quarto-e-sala? Para haver passagem no corredor, Henri mantém a custo a porta do banheiro fechada. Valendo-se dessa necessidade, ele aproveitou e pôs um espelho no lado de fora. Ou seja: você toma banho, seca-se todinho às cegas. Só vê a si no final, depois de vestido e enxugado. Embora, se mora sozinho, é provável que Henri ande nu pela casa.

Voltei a telefoná-lo depois do almoço – do horário de almoço em verdade; nada comi o dia inteiro. Ele ofegou e, só então, respondeu curto, grosso e asmático:

“Alô?” “Ah... Sofia? Olá Sofia. Como vai?”

Foi o máximo de interrogação que obtive. Disse-me que certo amigo passaria algum tempo em sua casa por conta de um curso. O amigo, até então, não tinha nome. Henri acabava de chegar de uma corrida com o amigo, agora hóspede, e estava cansado demais para o meu programa. “Eu agradeço o convite” – qualquer que ele fosse, imaginei – “, mas fica para outro dia” – pontuou.

Henri - Parte 1.1

Estávamos prestes a terminar. Ou Henri me deixaria enfim ou eu o faria abandonar-me. Cansei-me de suas misérias, de seu choro forte, de seu corpo frágil cada vez mais magro. Como podem idéias tão densas saírem dali, daquele humano tão suave e perecível? Toda vez que o encontro, torna-me novamente impossível deixá-lo, seja por extrema pena que me acomete, ou por profunda devoção ao que me causa. Henri constrói seus castelos com a pressa de quem tem os dias contados. Ando apavorada.

Me atormentas, Henri, de modo que às vezes me canso de ti. És tão profundo e exaustivo que apenas algumas horas, apenas alguns minutos de ti em mim são o suficiente. Pensei em dar-te um concerto de Chopin e até uma ópera de Wagner - algo que o fizesse perceber-me, perceber o que causas em meu corpo; que o fizesse ler o que sinto quando vejo as luzes de suas páginas e confesso-te que me tenta e que me trai o torpe desejo de fechá-las.

Resistir-te é morrer em mim. É encerrar-me em mim, Henri: é encerrá-lo. Será que tu não vês? Não respeitas a minha paz? Sabes que a ti sempre retorno. E, no entanto, fazes pouco caso do pouco que te ofereço. Queres sempre mais e melhor. Queres sempre o futuro. Queres, sobretudo, o que não tenho, Henri; o que não tenho. E, ao procurar em mim o que não tenho, fazes que o procure e que o tenha e seja.

Faço com que me deseje
Ele sorri.

segunda-feira, 9 de julho de 2007

Sábias Palavras de Oscar Niemeyer

Interrompo a seqüência de Sofia por uma boa causa. Para quem assistiu ao documentário "A Vida é um Sopro", sobre a vida e o trabalho do arquiteto Oscar Niemeyer, e também para quem não assistiu, um quote que vale ser lembrado:
"A mediocridade ativa é uma merda".

Faço das palavras de Niemeyer as minhas
porque ainda não pensei em nada que definisse tão bem a farofa em que vivemos
E ponto.
 
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