segunda-feira, 31 de dezembro de 2007

Quadrinhos muito bons!!!




O quadrinho acima (texto e desenhos) é de André Dahmer.

Outros quadrinhos, peripécias, mau humor, frases ácidas - e um guia sobre como sobreviver no Brasil - você encontra em malvados.com.br.

quinta-feira, 27 de dezembro de 2007

Alanis lança disco novo em 2008

Com previsão de lançamento para o mês de abril do ano que vem, o novo disco de Alanis Morissette já tem até nome: “Flavors of Entanglement”.

O produtor é Guy Sigsworth, que já trabalhou com as divas pop Madonna e Britney Spears. O que isso quer dizer? Sei lá, me diga você. Eu estou com MEDO (eu e a Regina Duarte hihihih).

Recordar é viver: em 1991(corrijam-me se eu estiver enganada), a diva do pop canadense (DIVA DO POP? :S) lançou o hit "Too Hot", cuja performance inclui uma dancinha para lá de especial:

http://youtube.com/watch?v=ar7afdfBHj4

You, you dont have to go and prove it
You just go ahead and do it
Your time is for the takin, makin
The best of what you got now
Always too hot
Never too cold
Give your best shot
Go with the flow cause you know youve got to


Será que o disco novo vem assim?

Ou assim?

http://youtube.com/watch?v=_qWwd7fwTt8&feature=related

Never too hot never too cold
You make your best shot too hot to hold
Never too young Never too old
You gotta go for gold

quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

Verdades Ocultas sobre a Comunicação brasileira


Clique aqui para escutar revelações chocantes sobre o que a Lei garante à Comunicação Social do país.


O áudio é produção independente da web-rádio
Agência Pulsar.

Para ouvir outras matérias, músicas e estripulias acesse o site: www.brasil.agenciapulsar.org .

Segundo Vitor Munhoz, repórter e locutor da rádio, o setlist desta matéria é composto, respectivamente, por "Mentira" do Mano Chao, pela trilha incidental de "O Guarani" e macaquices circenses propositais.

Vitor diz ainda que a musiquinha circense é cromática. Cromática?* Sim.
Isso é muito legal porque quem tem um dedo só também pode tocar!

*Cromatismo é a utilização das notas da escala cromática (composta de 12 semitons) no contexto de uma composição tonal. Os cromatismos são geralmente estruturados como frases musicais compostas de notas cromáticas, com a intenção de gerar tensão melódica ou harmônica, prolongando o desenvolvimento tonal e adiando a resolução melódica (Fonte: Wikipedia.org). Saiba mais...

segunda-feira, 12 de novembro de 2007

Perfil da Helena

Quem é Helena?

Você fica sabendo um pouco mais sobre a personagem com o novo capítulo da Sofia.

sábado, 10 de novembro de 2007

A Sofia está no forno. Enquanto isso...



Trecho de um clássico dos quadrinhos, "Batman and The Killing Joke" (Batman e a Piada Mortal). De Alan Moore, Brian Bolland e John Higgings.

Clique na imagem para ampliá-la.

quinta-feira, 4 de outubro de 2007

quinta-feira, 27 de setembro de 2007

Henri Mete o Pau na Hipocrisia

Você vê o capítulo novo da Sofia por aqui.

quarta-feira, 19 de setembro de 2007

A Segunda Noite

Esta era Helena. Me olhava de cima de sua cama. Não piscava.Tinha os cabelos quase curtos. As pernas de fora mostravam a moleca assanhada em que Helena, quando moça, fez muito doutor acreditar. Helena é um rio sério; ela era a perdição. E quis me engolir.

Eu andei em sua direção e a danada fez com a mão que, à distância de um braço, eu ali parasse.

Nau eu era a sobrar calores e angústia
Minutos suados me custaram
ao que o meu queixo pôde enfim ancorar
no pão-de-açúcar de suas rosas


Helena, cuja pele morena de latina e o cabelo mulato-mameluco escondiam o envergonhar, não me tocava.

Felina
Fantasma
e inteira
riu-se e desfez brincadeira
todo o meu desejar

terça-feira, 28 de agosto de 2007

segunda-feira, 27 de agosto de 2007

quinta-feira, 23 de agosto de 2007

Helena - Parte 1

Helena era a típica heroína solitária chicana. Quase anônima como a grande maioria. Nunca soubemos o seu nome verdadeiro; nem eu nem o mais poderoso de seus clientes. Participara de inúmeras revoluções, todas elas no continente americano, sempre sob a proteção do pseudônimo.

Cansada de sangue e mais sangue, ela chegava à Amsterdã para oferecer o seu corpo vivo ao mortal que fosse. Precisava arrecadar junto aos senhores de bem a quantia necessária à compra da revolução. Em troca, oferecia-lhes o prazer que seus móveis, imóveis, esposas e estilos de vida não conseguiam.

Helena não negava o mundo à sua volta, mas simplesmente o combatia.

quinta-feira, 16 de agosto de 2007

Edição da Sofia

À minha meia dúzia de leitores: comecei a editar a Sofia. O texto ainda não é definitivo, mas você pode acompanhar por aqui.

sexta-feira, 10 de agosto de 2007

Amsterdã - Parte 1

Eu me lembro, como se fosse hoje, da primeira vez que decidimos sair pelo mundo afora. Era início da noite, metade do dia. A Terra e todos os seus satélites giravam indiferentes; os outros planetas também. Plutão estava frio e calculista em seu esconderijo de astro. Mercúrio queimava por dentro: primeiro, corado, perto, bem perto do Sol. Éramos um casal de apaixonados.

Eu assentia que Sofia quisesse o Universo ao passo que ela me doutrinasse sobre o poder da sofisticação. Era inato. Relato que a jovem mulher nada dizia a respeito, mas levava à boca a piteira, incapaz de admitir que amarelassem quão formosas são as suas mãos de fada. Só assim é que ela permitia-se uma cigarrilha. Nunca lhe faltou merecimento. Não fosse o meu desdém pelo assunto, eu arrancaria o misticismo destas solitárias páginas e lhes daria vida.

Sofia tinha lobos e lebres e lábias de outrem a palpitar-lhe as veias. Isso foi desde sempre. Agora, é tudo polução noturna. E nós uma história sobre dois jovens tentando ganhar a vida fácil. Luzes vermelhas. Longe das câmeras e dos antigos caminhos, nós éramos menininhos sobre as suas bicicletas. A vida, o príncipe do primeiro baile.

sexta-feira, 3 de agosto de 2007

Júlia - Parte 2

Eu vou ao psicanalista fazer terapia do riso. Ele não pára de rir e só a ele eu reservo os meus segredos mais profundos. Nem todos. Você sabe como é. Em troca, ele me dá inenarrável atenção. Mas eu queria mesmo era dar pro meu terapeuta!

Júlia - Parte 1

Antes que me pergunte sobre o que foi feito de Sofia, eu adianto: ela escolheu o seu destino. E foi pelo acaso desse mesmo destino que Júlia me ligou depois de meses sem vê-la e tempos muitos mais sem senti-la. Ela disse aquelas coisas
- Caramba! Como é que você tá?

E outras
- Por que sumiu? Foi vingança?

Conversamos um pouquinho pelo telefone e ela me convidou para um provável programa de índio. Eu fiquei de pensar e retorná-la. Só que já tinha combinado com a ex (não Sofia, mas Marie, a anterior) de ir ao cinema. Perdi o horário do cinema por ter esquecido de sacar algum trocado. Sugeri, pois, à Marie que me acompanhasse até o banco para que, em seguida, fôssemos ao encontro de Júlia.

Júlia pensava que eu não fosse mais – aposto. Mas a vi aquecer a mesa com cerveja e dois bem apessoados amigos antes do início da apresentação. Não era mais minha amiga e nós não iríamos sair. Ela veio doce e sedutora, veneno camuflado, chocolate e tonalizante loiro. Eu fui como quem não quer nada, conheci seus colegas e apresentei Marie, como Marie, aos presentes na mesa. Voltei para casa com Marie antes que os demais se dirigissem ao destino combinado. Lá nos amamos.

No segundo encontro, Júlia disse já ter em mente os próximos e que eles não me incluíam para além de um amigo. Nós, segundo ela dois bicudos, nem sequer poderíamos transar. Por um reencontro e dois segundos, eu compreendi que não era essa a vez do xeque-mate de minhas carências e nem de amarrá-las desnudas aos suaves pés de Júlia – ela estava mais bonita do que nunca – à espera de migalhas de pão francês.Também não era o esperado momento em que eu me casaria, com ela ou com Marie, como um bom burguês. Eu tinha de pensar em outra solução.

sábado, 28 de julho de 2007

Henri - Parte 2

Por causa do espelho na porta, a primeira visão que o convidado tem na residência do adorável anfitrião é a de si próprio. A primeira e a última. Lembro que as cantoneiras da entrada eram moldura para o espelho atrás de si e o conjunto um retrato de mim. Henri gritou forte e gentleman:

- Entra! – ele estava se vestindo no quarto e então tratei de avançar, fazer pose para o espelho e me ver sem moldura até que o rapaz chegasse devagar para me mordiscar da barra da camisa surrada à nuca. Imagino que Henri deva ter percebido o meu desconcerto antes que eu pudesse fingir que pensei em tudo. Mas foi discreto.

- Venha, Catarina. Vamos à Cidade das Mulheres de Fellini! Você quer vinho?

Então, o quarto de Henri seria a cidade das mulheres de Fellini e eu uma delas. Aceitei o vinho e os bombons que me ofereceu. Acendi-lhe a paixão e o cigarro. Recusei o que me deu em troca. Assistimos ao filme cujos frames eram fotografias; fotografias e espelhos. Eram mulheres desesperadas.

segunda-feira, 16 de julho de 2007

Henri - Parte 1.2

Liguei pra ele pela manhã e ninguém atendeu. Não me pergunte pelo por que do pronome. Quem mais poderia estar naquele apertado quarto-e-sala? Para haver passagem no corredor, Henri mantém a custo a porta do banheiro fechada. Valendo-se dessa necessidade, ele aproveitou e pôs um espelho no lado de fora. Ou seja: você toma banho, seca-se todinho às cegas. Só vê a si no final, depois de vestido e enxugado. Embora, se mora sozinho, é provável que Henri ande nu pela casa.

Voltei a telefoná-lo depois do almoço – do horário de almoço em verdade; nada comi o dia inteiro. Ele ofegou e, só então, respondeu curto, grosso e asmático:

“Alô?” “Ah... Sofia? Olá Sofia. Como vai?”

Foi o máximo de interrogação que obtive. Disse-me que certo amigo passaria algum tempo em sua casa por conta de um curso. O amigo, até então, não tinha nome. Henri acabava de chegar de uma corrida com o amigo, agora hóspede, e estava cansado demais para o meu programa. “Eu agradeço o convite” – qualquer que ele fosse, imaginei – “, mas fica para outro dia” – pontuou.

Henri - Parte 1.1

Estávamos prestes a terminar. Ou Henri me deixaria enfim ou eu o faria abandonar-me. Cansei-me de suas misérias, de seu choro forte, de seu corpo frágil cada vez mais magro. Como podem idéias tão densas saírem dali, daquele humano tão suave e perecível? Toda vez que o encontro, torna-me novamente impossível deixá-lo, seja por extrema pena que me acomete, ou por profunda devoção ao que me causa. Henri constrói seus castelos com a pressa de quem tem os dias contados. Ando apavorada.

Me atormentas, Henri, de modo que às vezes me canso de ti. És tão profundo e exaustivo que apenas algumas horas, apenas alguns minutos de ti em mim são o suficiente. Pensei em dar-te um concerto de Chopin e até uma ópera de Wagner - algo que o fizesse perceber-me, perceber o que causas em meu corpo; que o fizesse ler o que sinto quando vejo as luzes de suas páginas e confesso-te que me tenta e que me trai o torpe desejo de fechá-las.

Resistir-te é morrer em mim. É encerrar-me em mim, Henri: é encerrá-lo. Será que tu não vês? Não respeitas a minha paz? Sabes que a ti sempre retorno. E, no entanto, fazes pouco caso do pouco que te ofereço. Queres sempre mais e melhor. Queres sempre o futuro. Queres, sobretudo, o que não tenho, Henri; o que não tenho. E, ao procurar em mim o que não tenho, fazes que o procure e que o tenha e seja.

Faço com que me deseje
Ele sorri.

segunda-feira, 9 de julho de 2007

Sábias Palavras de Oscar Niemeyer

Interrompo a seqüência de Sofia por uma boa causa. Para quem assistiu ao documentário "A Vida é um Sopro", sobre a vida e o trabalho do arquiteto Oscar Niemeyer, e também para quem não assistiu, um quote que vale ser lembrado:
"A mediocridade ativa é uma merda".

Faço das palavras de Niemeyer as minhas
porque ainda não pensei em nada que definisse tão bem a farofa em que vivemos
E ponto.

quarta-feira, 27 de junho de 2007

Sofia - Parte VI

Mudei de idéia, Sofia. Não vou mais correr contra o tempo nem em adiar o juízo final. Outro dia você tornou a me perguntar, porque eu insisti que repetisse, o que era mais importante na vida. Confesso que quase me escapuliu um rebelde e péssimo título de livro; qualquer termo que fizesse menção ao imenso amor que lhe tenho. Preferi dizer-lhe que não responderia a um tipo de pergunta como essa. “Não agora pelo menos” – reiterei com surpreendente firmeza.

Agora digo, Sofia, como quem não quer dizer nada, quetalvezparamim, o que há de mais importante na vida sejam as idéias ou mesmo os ideais - Baudelaire diria à votre guise. Eu sempre preferi o masculino. Gosto daquela sua última idéia de ser pó de estrela mais que a da fábrica também. E é às idéias que eu mais dedico o escasso tempo que hoje me sobra.

Quando me toma a pergunta sobre o que deixarei para a posteridade, eu só consigo pensar em como torná-las – a pergunta e a posteridade – o meu próprio dia-a-dia. O meu dia-a-dia, Sofia...eu me pergunto como não interrompê-lo

como ser vela
e também leme
ser remo
e ser fermento

sexta-feira, 22 de junho de 2007

Sofia - Parte V


A modelo, descalça, com camisa patriota (da copa de 70, se não me engano) chamava-se Sofia e, assim como não tinha escova de cabelo, não tinha sobrenome. A pobre só escutava os conselhos de seu cavalo Macaco. Era mais feliz.


Você sonhou que cortava o cabelo esses dias, lembra? – Sofia adora respostas e livros com respostas sobre os sonhos que ela teve. "Mais que bonito!" - repliquei. A mim, para quem tudo é rodas gigantes e montanhas russas...parece-me tão divertido bailar aos sonhos de outrem. Não entendo a resistência consensual a respeito dos sonhos. O que mais poderíamos fazer com fantásticas fábricas de chocolates senão voltar os olhos em direção aos grandes portões dos castelos e fazer que sim?

O mais divertido é que o ímpeto que tive, no momento em que ela arriscou narrar os desenhos do inconsciente, foi de dizer "Não! Por favor, não. Eu quero a moça de cabelos longos! "As meninas todas agora querem cortar o cabelo. Vai que você resolve cortar também? Tolir seus fios de ouro de bailarem ao vento de anil? Eu não quero, eu não deixo. Mas que diferença isso faz?

Acho que não tem mais jeito. Cuspido no céu e inferno cosmopolitas, o desejo de tornar-me fazendeiro morre sempre no terceiro dia. Subir aos céus e sentar à direita do todo-poderoso? Eu queria voar, Sofia! Talvez já tenha mesmo vencido o meu prazo de validade. Quem existe de verdade teme que a redenção seja um tédio.

Dope
Poesia
Ou amor por caridade
Desta vez, Sofia
Parece não ser remédio.

domingo, 17 de junho de 2007

Sofia - Parte IV


- Bento, bento é o frade
-Frade!
-Na boca do forno!
-Forno!
-Tirar um bolo!
-Bolo!
-Farão tudo que seu mestre mandar...
-Faremos todos!
-Se não fizer...
-Levaremos o bolo!

Eu estava às voltas com aquele meu Ensaio sobre como adiar o juízo final e resolvi parar um pouco para escrever-lhe. Eu vou ter tempo de sobra quando ele chegar. Apenas tenho de fazer bom uso. Time goes by so slowly for those who wait. Everybody knows Madonna is a liar; a good one. Besides that I just can’t wait. Sonhei com você esta noite. Eu via as sardas castanhas do seu colo pela primeira vez de novo.

Sofia, eu ando sem tempo, eu sei. Você anda tão perdida e eu com conversas de botas batidas toda vez. Você também tem me olhado menos nos olhos e eu sinto falta. I like missing them: the freckles(the word u taught me), sa coup d'œil. Eu gosto de você, sabia? Você tenta me fazer de bobo. Eu me faço. Eu me desfaço por você e você se desfaz de mim! Você acha isso justo, Sofia? Quando foi a última vez que falei em justiça nem me lembro. Mas quem quer ser advogada aqui é você.

Quando vamos entrar na classe média sozinhos e então nunca mais sair, Sofia? Eu vi um sofá divino outro dia. Ele tinha espaço para cinco ou seis Tias Délias, o que me pareceu bastante adequado. Você diz que eu devo fazer as unhas. Talvez não seja má idéia. Outros caras o fazem e elas são todas irregulares mesmo. Quando a podóloga – a especialista no assunto pra quem não sabe – vier com aquelas parnafernálias que a gente vê nos filmes eu não terei dúvida: Quero quadradas. Tudo quadrado!

terça-feira, 5 de junho de 2007

Sofia – Parte III

Já falei sobre o dia em que Sofia sentiu ciúmes? Ah. Não me venha com esse papo pós-moderno de novo. Ela sentiu ciúmes, sim. Enrubesceu-se tanto que ficou quase como quando nos beijamos escondidos à meia luz da 1º de Março. Eu me lembro bem, era uma segunda-feira. Tentamos umas três exposições, mas nenhuma parecia estar ainda aberta ou em cartaz. Eu comprei umas poesias na porta de uma delas pela metade do preço e por pura piedade. Não conseguiria admitir empatia pelo rapazinho de barba, mesmo se os versos dele valessem alguma coisa. Fomos até o fim da rua estreita de pedras portuguesas e tomamos três ou quatro copos de Salinas.

Aqui estou eu emendando um assunto no outro. Falava sobre o rubor na pele branca de Sofia. Ela tinha os olhos tensos; o olhar era praticamente o mesmo – surpreendi-me. Foi a primeira vez, desde as juras de amor, que eu me senti desconfortável ao seu lado. Não sei o que temia, ou se tremia – não me lembro. Pensei em levar-lhe uma lembrança. Lembrei que Ovídio, latino de 43 a.C., registrou em um de seus romances, a título de premissa principal, que um infrator não deve se mostrar culpado além do suficiente. Sabe-se lá se ele estava ou continua certo. Todo mundo entende que, em nosso tempo, delegam razão a Freud, gregos e liberais.

Por via das dúvidas, concedi a Sofia meu mais terno abraço o tempo que bastou para que ela se convencesse da gaze e do esparadrapo. Eu cobri sua ferida infantil com beijos e merthiolate que não arde. Ela se escondeu na caverna, bichinho do mato no inverno. E ainda fez bico! Olha, mas vejam só. Então eu disse, como dizia o meu avô, que iria pôr o seu bico no feijão! De manhã, ela saiu cedo do edredom esconderijo e me trouxe café na cama. Sofia aborreceu-se com a minha lentidão ao acordar. Resolveu descontar no cinzeiro. Eu já disse que Sofia fica linda quando aborrecida?

...

Já havia enviado a última carta à Cecília. Sinceramente, não faço idéia do que me ocorreu. Conheci seu atual namorado, um cara bacana. Tirei foto com a nova família (eles vão se casar) e parecia tudo tão normal. Eu poderia me sentir como Sofia cantando baixinho Comfortably Numb depois da notícia.

Triiiiiiiiiiim: "Sofia, liguei para Cecília e disse que a amava como quem tem o amor no CTI. Ela descartou a metáfora e disse o mesmo. Estava dirigindo, tinha uma reunião em seguida".

Desliguei o telefone e chorei bastante – o que não precisa ser dito a ninguém, OK? – enquanto ia esfaqueando o cordão umbilical à lâmina cega. Embora hoje eu consiga confessar um quezinho de tesão pela tortura, resolvi, quiçá para variar um pouco, por cortá-lo (o cordão) logo e rasteiro. Disparei contra Cecília uma rajada de verdades incontestáveis e de blablabá. Permiti-me, afinal, desfazer-me da condição de atalho. Foi drama, gozo, chama e um monte de sacanagens. Não mentiria se arriscasse dizer que não me sinto triste, nem com raiva, ou com medo um segundo sequer. Emocionei-me, corpo e alma, em acenar e jogar arroz. E não é lindo? Brega, terrivelmente brega, porém lindo.

Mantenho-me coadjuvante narrador. Desfiz-me em verdade e agora me reconstruo ao lado de Sofia, porque assim ela deseja e porque a minha vontade é essa também. Sofia quer dominar o mundo. Ela quer o meu coração. Meu coração, por sua vez, é bom. E tudo o que é bom custa caro. Ora, mais quanta bobagem! Eu só quero ser escritor, fumar o meu cachimbo, salvar a cobiçada, a mal tratada vida – coitada – das tentativas que não dão certo, do que eu não quero por perto, do desleixo e dos meus vícios. Eu sou refém dos meus desejos. Se toda a recompensa para poeta é divina inspiração, nem sempre o fim é assim tão duro. "Seja generoso", costumava dizer um querido professor finado, "Pense bem no que vem antes do THE END".

segunda-feira, 28 de maio de 2007

Sofia – Parte II

Chegou o dia 30 de junho e eu lhe dei um presente de dois meses de namoro. Resolvi assumir, já que nenhum de nós conseguia lembrar em que ocasião foi dado o primeiro beijo, que o dia em que o nosso amor começou foi o mesmo do meu aniversário, 30 de abril – data em que ela diz ter-se percebido apaixonada por mim. O clichê não me incomodou e eu resolvi tomar o depoimento como verdade para que os dias continuassem transcorrendo como sempre, um após o outro. Eu, de fato, não me ative ao momento, mas a confissão me obriga a uma desculpa convincente.

Desde ainda castos, passamos a pensar o futuro, o próximo e o distante, como se ele estivesse sempre a dois palmos de distância, ou à distância necessária para que pudéssemos vê-lo a ponto de sentir-nos contemplados. O presente fazia jus ao furtivo homônimo que a língua portuguesa fez questão de lhe oferecer. E o melhor dos presentes são as surpresas. Por isso, partimos por aí, bonecas russas da Zona Franca de Manaus, mostrando até que pobre pode fazer biquinho pra dizer "Je t'aime". Isso quando pode. Nobre de cobre que és, plebeu dourado que sou, partimos em busca da possibilidade.

...

Quando então, putas brasucas-holandesas em território alheio, o que será de nossos pecados? Temos pecados pequenos, Sofia; pecados de semi-virgens. O que será de nossos pecados com o passar dos anos e dos ofícios. Sex, drugs, rock'n'roll – they get anyone literally waisted. Temo que algo terrível se perca; e tão grave quanto perder a beleza. Uma pequena perda, nos dias atuais, pode ser como repetir a dose de uma grande ironia fina. Eis um erro fatal: dar a seu inimigo a chance de responder-lhe à altura depois de ele passar horas a fio pensando no que deveria ter sido dito logo na primeira vez.

segunda-feira, 21 de maio de 2007

Sofia – Parte I

Quando Sofia ri, e ainda mais quando ela ri descontrolada, eu digo: “Ufa!”. Não agüentava mais o silêncio em que se passavam as horas antes. Muito embora queira se tornar uma vaca hindu, Sofia compartilha que o Zodíaco não se mostrou muito favorável ao deitar seu Sol em Áries já logo no primeiro dia. Nem depois dos trinta alterar-se-ão mundos e astros: com ascendente estrategicamente posicionado na mesma casa do signo, ela carrega um Karma, a doses pouco homeopáticas de whisky, digno de uma princesa – aspirante à rainha – da mamãe: é a primeira no calendário estelar. Ainda bem.

Mesmo assim, senhora nobre ao fim do feudalismo, Sofia tem alma de anjo, asa dependurada por vôos demasiado altos ou sorrateiros, e um violão. Este último ela toca o tanto e com a freqüência necessária para conquistar qualquer garoto da idade. Natação, montaria, balé clássico, piano – nada que aprontou, ou que lhe foi aprontado, na vida parece mais rápido ou, ao menos, mais verdadeiro que as suas idéias. E ela não tem quase pressa de me contar. O culpado pela ânsia, repentina, made in England – revelou-me logo cedo – é o horóscopo; grande ditador de estripulias e dissabores o qual não consegue viver sem.

O horóscopo da revistinha que vem com o jornal de costume no domingo é a prova de que nem sempre é tão duro ser enganado. Até uma promessa, uma prece, um conselho pode ser bom. Se forem boas as promessas, as preces e as mentiras, elas então viram meias verdades; verdades partidas melhores que muitas por aí. O mundo de Sofia – seus sonhos de menina, maiores e menores desejos – eu torço, e me embriago de esmero quando parece soar sincero: eu torço apenas para que seja bom.

quarta-feira, 9 de maio de 2007

Recado de Sofia a Henri

Desde que descobri o pecado de Eva, nunca mais consegui despistar-me de seu labirinto. Se o preço do paraíso é o pesar, eu pago e saboreio a culpa com equivalente volúpia. E se viver já é, por si só, poder e padecer, eu trato de crescer ao som de poemas recitados por belos jovens como você; isso quando e se eu encontrar alguém que declame a sua altura e com o seu olhar de laguna.

Você toca no meu idealismo, no meu lirismo e nas minhas bobagens, e agulha pano vagabundo como se fosse seda. Você desperdiça o seu mel, para a minha surpresa, sem qualquer menção à economia. Eu torpedeio o seu realismo e você sabe. Você fala até de não saber mais, a essa altura do campeonato, de coisa alguma.

Cecília - Parte 1

A primeira dama, o primeiro drama, o primeiro amor.

É difícil falar da Cecília. É difícil pensar na Cecília de outra forma que não com um sorriso.

Errei na dose. Errei no amor.

Acertei uma flecha no coração dela e, não tardou, ela arrancou o meu. Doeu. Errei, erramos. Não conseguimos, não seguimos nem controlamos. E doía toda vez que não era céu. Quando eu hesitava em desperdiçar o meu mel, ela nem estava mais ligando.

Me apossei de suas pernas e das suas ternas e desesperadas idéias. Me instalei no seu jardim como se eu fosse a flor que toda flor quisesse ser e no lugar em que deve estar uma flor que se propõe a tal.

Dormi e amanheci ao seu lado dias que não couberam no calendário antes da hora de acordar: dei-me, dei-me conta. Estava pronto para virar borboleta e, então, segui no meu casulo de cetim, já que não de seda, como quem rola no chão molhado a ser lavado, como criança, como tudo o que sou e que tenho e que posso; e de tudo que podem as mais belas borboletas, mariposas e até, por que não, as gaivotas? Dei tudo o que sou e que ainda tenho. Eu descobri que nasci para o mundo e não pra mim. E o mundo, agora sim, é meu, tão meu.

E agora os poetas, os cantores e as Cecílias com mil refletores...

E, para a Cecília, apenas o que ela tanto merece: alegria. Se eu puder sussurrar minhas canções de amor de ruim, ou se eu puder me envaidecer de um suspiro enfim, então nada me falta. E é isso o que espero de nós poetas de meia tigela e das Cecílias sem parafusos: esse fôlego intenso e intruso que transforma, que eleva. E que o nosso amor se sagre da forma que merece ad eternum e daqui pra frente do jeito que for.

Início

Difícil como qualquer outro, este é um início.
 
BlogBlogs.Com.Br